ENTREVISTA: MOISÉS FRANCO

DIRETOR DIZ QUE ESCOLINHA ACABOU PORQUE CRESCEU MUITO E FALTOU RECURSOS
Por que houve o fim da escolinha de futebol Guadalajara? Essa foi a pergunta a ser respondida pelo idealizador e presidente da entidade, senhor Moisés Franco, presidente do Lar da Criança Marcondes Dias, entidade fundada em 1984 por Wilson Rodrigues e que realiza atividade filantrópica. Na verdade, trata-se de uma creche, situada em uma área de três alqueires junto a Sociedade Beneficente Albergue São Vicente de Paulo e é definida como um projeto para atender crianças carentes dos quatro aos 14 anos de idade. “O objetivo mesmo é dar apoio as essas crianças”, diz o senhor Moisés. Projetaram construir um clube com uma proposta inédita a nível nacional (usada e desfrutada pelas crianças). A intenção era ampliar o trabalho já desenvolvido com uma sede própria. Os trabalhos esportivos com a escolinha de futebol Guadalajara iniciaram-se em 1979 com treinamentos de futebol de salão no ginásio JK (Tatuzão), atividade que durou três anos, até 1982 quando fizeram o primeiro jogo de futebol de campo no estádio da Associação Esportiva Jataiense com a escolinha Pelezinho do Marcos Adriano. A atividade com a escolinha Guadalajara, apesar de conjuntas, não tinha nada a ver com a proposta do Lar da Criança Marcondes Dias, sendo, dessa forma, a escolinha um núcleo autônomo. Administrada a base de carinho e amor, segundo o senhor Moisés, a escolinha revelou vários jogadores para o futebol amador e até profissional de Jataí. Nomes como Reidner Lopes (ex-volante do Goiás e Botafogo carioca), Wemerson “Mestre” (meia), Batuíra (centroavante) Edu (volante), Wesley “Beiço” (ex-zagueiro), dentre vários outros, foram destacados jogando pela Guadalajara. Entretanto, Moisés Franco deixou bem claro que o objetivo da escolinha não era revelar jogadores e sim fazer um trabalho filantrópico. Assim, nesse contexto, os times de futebol eram a parte. Pela participação na Copa Agroecológica Internacional de Futebol, evento envolvendo categorias de base de várias partes do Brasil, realizada em Jataí, entre os dias 14 e 21 de julho de 2007, a Guadalajara, no comando dos técnicos Luizinho, José Modesto e Danilo “Abacaxi”, competiu em três categorias e conquistou dois títulos de campeão e um 3º lugar. Foi a última e maior aparição na mídia local. Logo após, a direção do Lar da Criança Marcondes Dias, procedeu, sem maiores explicações (nem mesmo para os professores da escolinha, segundo eles mesmos) a dispensa de todas as categorias da equipe e o fechamento desse núcleo de rendimento. Entre especulações e versões mal declaradas, faltou um maior esclarecimento sobre o real motivo do fim, surpreendente, da Guadalajara.
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ALVO ESPORTES: Qual foi o real motivo da dissolução da escolinha Guadalajara?
MOISÉS FRANCO: Sempre tivemos o maior carinho pela escolinha Guadalajara. Foram muitos anos que a gente dedicou com muito amor e carinho (os professores lá são testemunha disso). Mas a gente lutava com muita dificuldade financeira. A gente queria fazer um trabalho bom com os meninos, em todos os sentidos. Mas faltava recursos financeiros. Nos tentamos um convênio com aquele projeto 2º Tempo. Nós fomos na Secretaria dos Esportes (Setur). O Ênio (diretor na Setur de esportes especializados) lutou muito nesse sentido e trouxe até um moço lá de Brasília...mas não virou nada. A gente sempre, em reuniões, comentava: se não conseguisse os recursos, a gente não teria condições, porque ela (a escolinha) foi crescendo automaticamente. E quanto mais ela foi crescendo, ela trazia despesas e a gente estava mantendo ela com muita dificuldade. Eu até falava mesmo com os meninos que ela (a escolinha) estava sobrevivendo pelos milagres de Deus. Porque a gente fazia com amor e com carinho. A gente gostava e gosta até hoje.
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ALVO ESPORTES: As despesas lá estavam sendo mantidas pela própria diretoria, era isso?
MOISÉS FRANCO:
Não. Era mantida pela comunidade, porque a diretoria não tinha condições...

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ALVO ESPORTES: Vivia de ajudas é isso?
MOISÉS FRANCO: É. Agente era mantido pela comunidade. Uns ajudavam com uma coisa e outra. E a gente tinha uma ajuda da Renda Cidadã (programa de auxílio do governo estadual). E a Prefeitura sempre ajudava também. Sempre nas horas difíceis a gente levada uma listona lá (na Prefeitura), pedia e eles compravam aquelas coisas e saía daquele sufoco. E aquilo era direto: o ônibus estragava e cadê o recurso? Não tem e tal...a Prefeitura ajudava...a gente pedia aqui e acolá...era uma luta mesmo. Mas estava indo, porque lá, vinha outros times de outras cidades, a gente fazia almoço no sábado e domingo e tratava da melhor maneira possível. Os outros times e as outras escolinhas sempre elogiavam o nosso trabalho e a gente queria dar prosseguimento. De repente, essa Renda Cidadã corta. O recurso que garantia mais era essa Renda Cidadã.
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ALVO ESPORTES: Aí foi cortada?
MOISÉS FRANCO: Cortou...Disseram:“ela volta”. E passou um mês, dois, três, quatro...aí eu falei...inclusive a conseqüência disso está até hoje, porque lá a despesa é todo dia. E muito.
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ALVO ESPORTES: Foi cortada quando a Renda Cidadã?
MOISÉS FRANCO: Não lembro. Mas faz uns seis meses que cortaram essa Renda Cidadã.
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ALVO ESPORTES: A tá!
MOISÉS FRANCO: Aí nós corremos atrás, porque a gente não queria parar. Aí eu conversei com o Fernando (prefeito). Disse:“olha Fernando, a renda agora parece que cortou...”. E disse pra ele: “olha nós precisamos de dois a três mil reais por mês”, que é, para o poder público, muito insignificante.
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ALVO ESPORTES: Realmente.
MOISÉS FRANCO: Nós estávamos lá com quase 300 crianças. E eu também não queria continuar sem conseguir isso porque só ia complicando. Dívida e mais dívida. Aí o Fernando falou: “Olha, a Prefeitura também está em dificuldades”. Realmente...ele disse que ia passar só para um período (o expediente na Prefeitura), como realmente passou (eles estão funcionando só até às 13hs). E tem procurado fazer tudo para diminuir (as despesas)...mas não é só Jataí. O próprio Estado. Esses dias o Alcides (governador) estava falando das dificuldades que ele está atravessando. Até falou em dívidas de outro governo. Mas eu ainda queria, assim mesmo, conversar, reunir lá o pessoal pra gente ver o que faria.
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ALVO ESPORTES: Fazer uma assembléia com a diretoria?
MOISÉS FRANCO: Não. Eu queria mesmo com os professores e o pessoal, mas parece que os professores não tiveram interesse. Eu procurei...
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ALVO ESPORTES: O Zé Modesto é o Luizinho?
MOISÉS FRANCO: Os professores lá. Eles não tiveram interesse em fazer essa reunião. Eu queria fazer para esclarecer, mas...aí eu também não insistir.
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ALVO ESPORTES: Aí procedeu-se a dispensa?
MOISÉS FRANCO: Eu procurei novamente o Fernando (prefeito) e disse: “olha Fernando, infelizmente, a gente não tem condição”. A única coisa que eu não queria que acontecesse era isso. Falei pro Fernando que não tinha condições de continuar com a creche. Infelizmente, nós vamos ter que te pedir para procurar uma outra sede. E a escolinha já cresceu e hoje é uma grande escolinha.