Como um clube do interior deu a volta por cima
A história do Guaratinguetá, o clube-empresa
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O Guaratinguetá Futebol Ltda. é o líder do Paulistão 2008 com 37 pontos (até essa 18ª rodada). Sua história recente mostra um trabalho diferenciando em termos de gestão de clubes de futebol no Brasil.
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Parecia mais um escritório de contabilidade: pequeno, com algumas mesas e folhas. Mas ficava ao lado de um estádio, o Municipal Dario Rodrigues Leite. Mais do que uma empresa, ali havia um clube; mais do que um clube, ali também havia uma empresa. É o clube-empresa com maior visibilidade no futebol brasileiro. Além dele, há apenas um: o Capital Clube de Futebol, que está na segunda divisão do futebol brasiliense. O Guaratinguetá Futebol Ltda. está situado na cidade de mesmo nome, 176 km a nordeste de São Paulo, na região do Vale do Paraíba.
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Histórico
Com o nome de Guaratinguetá Esporte Clube, foi fundado em 1998, com a intenção de fazer renascer o espírito esportivo da cidade que ficou sem um clube de futebol profissional por nove anos. Um ano depois, foi assinado um contrato de co-gestão com a C.S.R. Futebol e Marketing, grupo do atual presidente do clube, Carlos Arini, com os jogadores César Sampaio e Rivaldo. O “Guará”, nome pelo qual é chamado, filiou-se à Federação Paulista de Futebol (FPF) e disputou a quinta divisão do futebol Paulista de 1999. Nesse período, revelou jogadores como Triguinho, que negocia com o Botafogo e está atualmente no futebol Belga, Marcinho Guerreiro, destaque do Palmeiras, hoje atuando na Ucrânia e o zagueiro Felipe, que atua pela Udinese, da Itália. Três anos mais tarde, chegou ao fim o consórcio com a C.S.R, e o clube passou a contar com apoio financeiro de empresários locais. O time foi subindo de divisões, e em 2004, primeiro ano do empresário Sony Douer no apoio financeiro, o time obteve o acesso para a segunda divisão do Campeonato Paulista. No final de 2005, Sony criou, junto com Carlos Arini, a Sony Sports: "A prefeitura começou a apoiar o time, e existiu uma identificação muito grande entre clube, prefeitura, e principalmente, os torcedores, fundamental para que um projeto no futebol dê certo", afirmou Arini. O clube, então, foi reestruturado, culminando na transformação para clube-empresa, o Guaratinguetá Futebol Ltda. Após isso, o clube conseguiu o acesso para a Série A-1 do Campeonato Paulista, e a cidade de Guaratinguetá, em 2007, teve um clube da cidade na elite do futebol paulista após 45 anos. O clube foi campeão do interior paulista, derrotando times como o Paulista de Jundiaí e o Noroeste, de Bauru, alem de ter recebido premiação de 150 mil reais da FPF por ser a torcida com maior média de público do interior do estado, superando clubes tradicionais como o próprio Paulista, e a Ponte Preta, de Campinas. O Estádio Dario Rodrigues Leite tem capacidade máxima para 16 mil pessoas (menor que o Arapucão em Jataí).
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Clube-empresa
Com a criação do clube-empresa, o Guará passa a utilizar o sistema administrativo adotado por alguns times europeus como Milan e Manchester United, com características da iniciativa privada. Segundo o presidente do clube, há a dinamização da gestão, agilidade na hora de tomar as decisões, facilidade no planejamento de metas, e, principalmente, eliminação dos processos burocráticos. Não há conselheiros, não há muitos diretores: há apenas o presidente, um diretor de futebol, um gerente, todos da empresa Sony Sports. “Esse é um modelo transparente, sério, e que transforma o futebol como um grande business. A saída para o futebol brasileiro é a transparência e transformar os clubes em empresas, com a visão e seriedade de qualquer empresa. A Lei Pelé já diz isso”, disse Carlos Arini.Para o presidente da Torcida Jovem do Guará, José Ivan Fonseca, ser um clube empresa foi a principal causa das vitórias do time. “Elimina a corrupção nos clubes e proporciona rapidez nas decisões. Isso gera um ambiente de uma verdadeira empresa, comprometida a dar lucro e fabricar craques e vitórias para a nossa cidade” – afirmou José Ivan. Ele ainda disse que a torcida procura não influenciar no andamento administrativo do clube por ter total confiança nos empresários.Sobre a relação com a torcida, o presidente do Guaratinguetá disse não mudar em nada, sendo empresa ou não: "Temos que encarar o futebol de duas maneiras. Fora de campo, tem a parte administrativa, da empresa, como gerir compras e vendas, planejamento de campeonato, construir centro de treinamento. Dentro de campo o torcedor vai para o campo e quer ver o time dele ganhar, assim como nós queremos". Ainda sobre a relação com a torcida, Carlos Arini ressalta o grande diferencial do negócio chamado futebol, em sua opinião: "A paixão é o diferencial desse negócio, e o resultado dentro de campo. Futebol sem público não dá certo. Há equipes de sucesso no futebol brasileiro e com estádios vazios. O público é o termômetro, que te pressiona, critica, e, em alguns momentos, te leva à vitória".O Guaratinguetá procura não se espelhar apenas em um clube, e sim no que dá certo. “São alguns clubes que vem fazendo sucesso não só no futebol brasileiro como também no exterior, que pensam rápido e tem agilidade. Mas o Guará tem uma dimensão pequena dentro do futebol. Você vê grandes clubes que se encontram em dificuldades por causa de administrações péssimas, e têm uma grande responsabilidade diante de suas torcidas”, disse o presidente do clube-empresa.Na seção de recursos humanos de todas as empresas, há critérios para contratações de empregados. Quais seriam os critérios no clube-empresa? O presidente do clube responde: “são dois critérios básicos: o homem e o atleta. Não adianta ser um bom jogador se não é um grande homem, e nem o contrário. Jogador de futebol é o que mais tem no Brasil. Nossos atletas são 100% jogadores e atletas, esse é o nosso diferencial”.Como planejamento e visando ao treinamento de alguma seleção na Copa de 2014, que acontecerá no Brasil, o Guaratinguetá abriu mão da vaga na serie C do Campeonato Brasileiro conquistada com o título do interior paulista, para adquirir uma área para a construção de um centro de treinamento (CT). O objetivo do clube é ter categorias de base diferenciadas para formar o atleta dentro de uma visão do clube, e não precisar contratar tantos jogadores.O Guaratinguetá tem 80% do elenco contratado para a disputa do Paulistão-2008. Alguns jogadores campeões do interior que estavam emprestados retornam, casos de Alex Silva, Alê e Michael, que jogaram a série B do Campeonato Brasileiro pela Ponte Preta. O lateral-direito Alex Silva sonha alto: “a diretoria do Guará conhece bem futebol, sabe montar bons times, são pessoas competentes e juntos podemos conquistar o Paulistão. Não é um sonho impossível”.Entre as novas contratações, destaca-se o atacante Alessandro “Cambalhota”, com passagens por Cruzeiro, Fluminense e Santos, e que estava no futebol turco, além do treinador Guilherme Macuglia, que dirigiu o time do Coritiba no primeiro turno da Série B do Brasileiro. O Guaratinguetá estreou na competição dia 16 de janeiro, em casa, contra o São Paulo.